EU TAMBÉM TENHO OS LIVROS
Não escolho os livros. Os livros me escolhem. Apesar de ser tão recente, não sei mais explicar como me apaixonei por Toni Morrison, a Nobel de Literatura de 1993. Desde aquele ano sei dela, mas nunca lera. Apaixono-me por seus cabelos afros grisalhos, sua boca, suas mãos, suas duas garrafas de água mineral na entrevista e depois pelas suas palavras, pelas suas histórias.
Não escolho os livros. Os livros me escolhem. Apesar de ser tão recente, não sei mais explicar como me apaixonei por Toni Morrison, a Nobel de Literatura de 1993. Desde aquele ano sei dela, mas nunca lera. Apaixono-me por seus cabelos afros grisalhos, sua boca, suas mãos, suas duas garrafas de água mineral na entrevista e depois pelas suas palavras, pelas suas histórias.
Sabendo dela daqui e dali, recolhi os livros que existiam nas livrarias e encomendei os outros. Tive sorte: havia mais de um da escritora norte-americana. O mais freqüente é não encontrar nenhum que se procura, forçando a encomendas demoradas.
No mesmo dia, sem aliviar as roupas de inverno, saí na tarde quente, voltei e já li um capítulo, logo lerei outro e depois todos. Não quero, no entanto, ler mais tão rápido. Quero o maior tempo possível dentro das páginas, exercitando todos os sentidos, apesar de ter tantos livros por ler.
Quero vadiar, flanar na leitura, sem perder uma vírgula, uma entrelinha. Voltar à página anterior quantas vezes desejar. Reler mais de uma vez cada brochura, mesmo sabendo que para isso precisaria parar de comprar livros e viver 300 anos.
Li o primeiro capítulo de “Compaixão”, iniciando a obra de Morrison pelo fim, olhando pelo canto do olho o exemplar de bolso de “Jazz”, pensando no “Amada” que me espera na livraria fechada aos sábados de tarde, no “Olho Mais Claro” e nos outros que estão na pendência da encomenda.
De lambuja, na sacola, trouxe dois Fiódor , o Dostoiévski. Observo e os acho tão pequenos, tão fácil de ler um ainda durante a tarde e outro antes da madrugada. Quero, repito a mim mesmo, ler cada vez mais devagar, prender cada história, como cada livro me prende. Jogar de igual para igual.
Na mesa de cabeceira há uma pilha, na mesa de centro várias pilhas, na escada de serviço mais outras, na poltrona e no sofá tantas outras. Poderia lê-los todos em um mês, dois, um ano, mas quero lê-los para sempre e lembro de Marguerite Duras que escreveu “Caminhais em direção da solidão. Eu, não, eu tenho os livros”.
Entre eles, guardo a senhora de buço mal feito e ar de poucos amigos e da moça de olhar triste, que me atenderam. A primeira parece expondo todo seu desinteresse, a segunda entreabrindo os lábios para dizer que anoiteceria procurando outros Dostoiévski, Faulkner, Morrison, desde que eu lhe fizesse companhia. Ambas estranhas no ninho?
Um comentário:
Belo texto, Paulo.
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